Teixeira e Souza e o primeiro romance brasileiro.



Podemos, pois, assinalar que a presença do "negro inteiro" na Literatura brasileira começa apartir de 1830. Note-se: o negro escravo. No mais são as aparições que já transparecem como, por exemplo, no caso do mulato Antonio Gonçalves Teixeira e Souza (1812 - 1861), com o seu Independência do Brasil, um poema narrativo. Lê-se este primor, forjado com raça e brio, para o momento culminante da decisão da independência da Pátria:


Nada mais de reunião! d' ora em diante
Portugal para nós seja estrangeiro!
Viverá para sí nobre e possante
O Venturoso reino Brasileiro!
Juremos, pois, amigos, neste instante
Com ânimo fiel, nobre guerreiro
Seguir da cara pátria a livre sorte.
Bradando sempre Independência , ou Morte!


E como se saiu , no labor de poeta lírico , o mestiço Teixeira e Souza? Vejamos excertos de Aos anos de uma menina:


Menina, sabes tu porque naceste?
Sabes no mundo qual missão de espera?
Sabes de onde vieste?
Oh! não saias da infância deleitosa
Não entres neste mundo de misérias
morada venenosa!"


Mas Teixeira e Souza não foi so poeta. É também o romancista de O Filho do Pescador (1843), o primeiro romance brasileiro, levando incontestavelmente a primazia sobre Máximas de Virtude e Formosura, da paulista Tereza de Margarida da Silva Orta ( 1711 ou 1712 - 1787), escrito 91 anos antes. Primazia, por uma razão simples: embora nascida no Brasil, Tereza Margarida não é uma escritora brasileira.


"Nada reflete no nosso meio, que ela praticamente não conhecia. As aristocráticas raízes paulistas maternas, de Tereza Margarida, eram afinal de contas, bem européias". [...]

( Hollanda, Aurélio Buarque, In O Romance Brasileiro (De 1752 - 1930, edições O Cruzeiro, 1952).


A primeira obra que se pode chamar romance brasileiro é, pois, O Filho do Pescador, de Teixeira e Souza. E o livro, se não influi literariamente, influi pelo exemplo em outros escritores. Fraquíssimo, não é ele, entretanto, como o de Tereza Margarida - de muito melhor qualidade - uma tentativa solta, ocasional, infecunda. Com ele temos um caminho aberto para outros e para o mesmo autor. O mestiço de Cabo Frio é que dá começo à história do nosso romance brasileiro, situado no Brasil, feito por filho do País, de espírito formado na terra e a ela radicalmente ligado.

(de Camargo, Oswaldo, In O Negro Escrito - Apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira, 1987, SP)

2 comentários:

Lucas Piter disse...

Estou fazendo um artigo sobre o poder da crítica literária na deslegitimação de autores. Faço uma crítica ao artigo de Antonio Candido, de Formação da Literatura Brasileira, que ressaltou de forma preconceituosa, ao meu ver, a produção de Teixeira e Souza. Julgo o artigo de AC muito raso, sobretudo por se tratar de um autor sobre o qual necessita mais estudos.

Nilcéia C. S. Baroncelli disse...

Ainda vamos conversar muito sobre este assunto...
Abraços,
Nilcéia